As estátuas de Rapa Nui testemunharam um dos piores desastres ecológicos do planeta

Para acordar cedo, tenho de ter uma boa razão. Mas não tive dúvidas na Ilha da PáscoaRapa Nui no idioma local. O primeiro amanhecer precisava ser registrado, pois o local escolhido era excepcional: em frente aos gigantes de pedra de Tongariki.

O céu ainda está na sua metamorfose inicial, mas posso distinguir as 15 estátuas. Os moais dão suas costas ao oceano Pacífico e estão enfileirados lado a lado como um pelotão; o maior tem dez metros.

As nuvens começam a ganhar cores quentes, tons que variam do rosa ao laranja e ao amarelo. As luzes no céu dão um ar ainda mais dramático ao ambiente feérico das gigantescas estátuas.

Os gigantes de pedra – os moais – de Tongariki ao amanhecer. © Haroldo Castro

Estáticos e temíveis, os moais contemplam o vulcão Rano Raraku. Foi dessa montanha que saiu a pedra necessária para construir cerca de 900 estátuas, das quais 400 estão espalhadas ao redor da ilha e outras 500 ainda permanecem em Rano Raraku, inclusive a maior de todas, incompleta, medindo 22 metros. Os moais foram erguidos entre os anos 900 e 1620.

Caminhando em direção ao vulcão-pedreira, não posso deixar de me perguntar o que todos questionam quando chegam em Rapa Nui. Por que seus habitantes, vindos de alguma ilha da Polinésia, resolveram construir essas estátuas gigantes? E que motivo levou essa civilização mergulhar na decadência, até mesmo antes da chegada do primeiro europeu no domingo de Páscoa do ano 1722?

Um raio de luz ilumina um moai em Tongariki. © Haroldo Castro

Segundo o antropólogo Jared Diamond em seu livro “Colapso”, toda a ilha foi destruída e hoje já não existe nenhuma vegetação natural original. As plantas que vivem na ilha atualmente são espécies de fora, invasoras. Todos os pássaros nativos também desapareceram. Segundo o autor, Rapa Nui pode ser considerado como o maior desastre ambiental do planeta.

Os responsáveis por terem dado uma forma humana estilizada a pedras pesando dezenas de toneladas – e ainda por cima, levantá-las na posição vertical – também são os principais suspeitos desse colapso ecológico. No delírio de erguer cada vez mais e maiores moais, os antigos habitantes de Rapa Nui usaram uma quantidade cada vez maior de recursos naturais e humanos.

Quantas palmeiras não foram sacrificadas para se transformarem em artefatos roliços de transporte? Quantos quilômetros de cordas foram meticulosamente elaborados com fibras de árvores, apenas para arrastar os moais? Quantos braços não foram necessários para esculpir e transportar apenas uma estátua? Quantas calorias para alimentar essas centenas de bocas escravas e cansadas?

Para louvar seus antepassados, a classe dirigente de Rapa Nui não considerou a sustentabilidade e arruinou a existência de suas futuras gerações. Sem matéria prima, a cultura Rapa Nui entrou em declínio vertiginoso. Acabaram-se as árvores, as estátuas, os rituais de cremação, as canoas, a pesca e os alimentos. O canibalismo virou prática. Em 1872, sobreviviam apenas 111 nativos em estado deplorável e todos os moais haviam sido derrubados por clãs rivais.

Enfileirados, os 7 moais de Ahu Akivi são os únicos a ficar de frente para o mar. © Haroldo Castro

Essa parece ser uma lição que temos dificuldade em aprender. Nossa cultura imediatista insiste em considerar que os recursos naturais são intermináveis e que sempre encontraremos novas terras, aquíferos, jazidas, poços de petróleo ou mares que não foram poluídos. Rapa Nui é um exemplo a ser lembrado que os governantes locais podem cometer graves erros se não colocarem a sustentabilidade em primeiro lugar!

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