Na terça-feira 20 de junho de 2017 comemoramos o 10º aniversário do Viajologia, blog do portal da revista Época. Durante essas 522 semanas, publicamos 650 histórias de viagens e de natureza, cujo palco foram 72 países.
O primeiro artigo foi postado em 20 de junho de 2007. Na ocasião, eu me preparava para embarcar dos EUA à Mongólia, onde passaria um mês no país de Gêngis Khan, escrevendo sobre as estepes, os cavalos, os tempos budistas, a vida selvagem, um trekking de camelo, o festival Naadam e muitos outros temas. Entretanto, a aventura mais especial guardei para as páginas de papel da revista Época: as arcas sagradas do deserto de Gobi.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79909-6014-494,00.html
Vale lembrar que, em 2007, encontrar um Wi-Fi na Mongólia para entrar na internet não era uma tarefa tão simples. Uma solução foi abusar da conexão de um restaurante francês na capital Ulan Bator. Depois do jantar no local duas vezes por semana, checava meus e-mails, lia as dezenas de comentários e iniciava meus envios. Para dar tempo de concluir a transmissão das fotos, pedia sempre uma sobremesa extra, uma mousse de chocolate.
Após a Mongólia, meu próximo destino foi o Tibete. Mesmo se dominado pelos chineses, esse povo do Himalaia me fascinou com sua cultura e suas tradições. Conversando com monges, comerciantes e fiéis budistas – quase todos sob a condição do anonimato – aprendi muito sobre a situação oprimida do tibetano. Infelizmente, não podia escrever tudo que via e ouvia no blog Viajologia: ainda ficaria algumas semanas na China e já havia aprendido que o governo era mestre em retaliações. Tive de esperar meu retorno ao Brasil para publicar nas páginas de papel de Época, minha visão mais completa sobre a repressão no Tibete. http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG81041-6014,00.html
Em 2008 regressei à Ásia – Butão, Nepal e Mianmar – para buscar novos assuntos para o blog Viajologia, mas meus olhos já estavam voltados à África, continente que me chamava para uma longa jornada terrestre. Depois de mais de um ano de preparação, a expedição jornalística “Luzes da África” teve início na Cidade do Cabo, África do Sul, em novembro de 2009. Durante nove meses e 40 mil quilômetros, meu filho Mikael e eu cruzamos 18 países do sul e do leste africano, fotografando, filmando, enviando material para a imprensa brasileira e alimentando o blog Viajologia com dois posts semanais. Um pouco de diversão e muito trabalho.
Voltei ao Brasil em meados de 2010 com uma vontade ainda maior de contar histórias. Além de continuar alimentando o blog Viajologia, resolvi escrever um livro sobre a jornada africana. Mais do que competir com o blog, os seis meses necessários para redigir “Luzes da África” estabeleceram uma nova relação com meus leitores do blog. Organizei vários concursos para que os leitores escolhessem as melhores fotos da viagem em diferentes categorias e as melhores frases para a contracapa do livro. Em troca, dezenas de exemplares foram sorteados entre aqueles que haviam deixado seus comentários.
Para a seleção final da capa do livro, um post em 2011recebeu 364 comentários com votos. A capa com a foto de três mãos de guerreiros da etnia Maasai foi a preferida por metade dos leitores. Como confessei no próprio blog, minha foto favorita era outra, a do deserto. Mas depois de ler atentamente os comentários, mudei de ideia e acabei seguindo a opinião dos leitores. Conclusão, a interatividade do blog foi essencial até mesmo para a escolha final da capa de “Luzes da África”!
Foi em 2011 também que a primeira matéria do blog Viajologia viralisou. Em 31/03 fotografei na charmosa Paraty o casamento de dois jovens franceses, a noiva sendo uma sobrinha parisiense que adora o Brasil. Intitulado “Venha se casar no Brasil”, o post recebeu no primeiro dia mais de 30 mil cliques e, durante esses os primeiros seis anos, cerca de um milhão de leitores leram a matéria.
Publicada no carnaval de 2015, outra matéria também chegou à marca de um milhão de pageviews. Com o nome “A Guiné Equatorial que não vimos no Sambódromo do Rio”, a crônica relata minha viagem ao país regido pela ditadura de Teodoro Obiang. No ano anterior, Teodorin, filho do ditador, entusiasmado com o carnaval brasileiro, havia convencido os dirigentes da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis a aceitarem R$ 10 milhões de reais com a condição de que o diminuto país pudesse ser o tema principal do desfile. Os dirigentes aceitaram.
A Guiné Equatorial mostrada pela Beija-Flor foi linda, colorida e encantadora. A comissão de frente, composta por 15 guerreiros, montou uma árvore da vida e deu show de criatividade. Os carros alegóricos, espetaculares. Em um deles, uma floresta rica, cheia de animais. O dinheiro do patrocínio acabou dando à Beija-Flor o título de Campeã do Carnaval Carioca 2015. Mas toda a riqueza mostrada no desfile contrastava com a pobreza, a devastação da natureza e o desmatamento que vi e fotografei no local.
A terceira matéria mais lida nessa década também se remete à África, mas, desta vez, com uma notícia positiva, sobre a “Moringa, a árvore mágica que pode acabar com a fome no mundo”. Cerca de 500 mil leitores aprenderam que a moringa possui sete vezes mais vitamina C que a laranja, quatro vezes mais vitamina A que a cenoura, quatro vezes mais cálcio que o leite de vaca, três vezes mais ferro que o espinafre e três vezes mais potássio que a banana. E mais: a composição de sua proteína mostra um balanço excelente de aminoácidos essenciais (aqueles que precisamos ingerir pois o corpo humano não os produz). A moringa oferece outro presente às comunidades. Devido à composição das sementes, quando estas são trituradas e misturadas a uma água turva e não potável, a combinação limpa a água. Pesquisadores do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais comprovaram, em testes de laboratório, que as sementes da moringa conseguem remover 99% da turbidez da água.
Na mesma categoria – plantas que ajudam a lutar contra a pobreza– Giselle Paulino e eu publicamos, no final de 2016, outra matéria de sucesso, que atingiu centenas de milhares de pageviews. O post “Conheça a ensete, a falsa banana que consegue vencer a fome na Etiópia” explica como a polpa do pseudocaule da falsa-bananeira, depois de fermentado por várias semanas, torna-se um alimento – o kocho – que pode ser a solução para combater a fome para 10 milhões de etíopes.
Além destas quatro campeãs, diversas matérias bombaram. No Brasil, foram os lugares clássicos de passeios que se sobressaíram. A história da empresária francesa Emmanuelle Tonnerre, que transformou sua casa de veraneio em um hotel boutique em Búzios, rendeu mais cenetnas de milhares de cliques. A frase da empresária que serviu de título para a reportagem – “não havia hotéis com o conforto exigido por europeus” – pode ter mexido com os brios de alguns leitores mas foi a base para que ela construísse seu hotel de sonhos na praia da Ferradura.
Há poucos meses, em fevereiro deste ano, um fim de semana na ilha de Paquetá rendeu duas crônicas sobre o bairro carioca. Alguns moradores resolveram que deveriam fazer de sua casa o palco ou a vitrine de suas atividades profissionais. Essa vontade de abrir sua própria residência aos amigos e ao público tomou forma, ampliou-se e está dando certo. As duas matérias atingiram centenas de milhares de leitores.
Dezenas de outras matérias bombaram durante esses últimos 120 meses e o blog Viajologia, com suas 650 matérias, constitui-se hoje em um rico acervo de dicas de viagens e de informações que podem ser úteis ao viajólogo, aquele que considera a Viajologia como a arte e a ciência de viajar.
Listo abaixo links de reportagens que recomendo a leitura:
Flores da África do Sul:
A Alameda dos Baobás em Madagascar:http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/viajologia/noticia/2015/11/alameda-dos-baobas-em-madagascar-compoe-uma-das-paisagens-mais-belas-do-planeta.html